segunda-feira, 15 de abril de 2024

Ariel e Caliban (26/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Ariel e Caliban (26/04/1936)

Plínio Salgado

Espírito alado de Ariel, alma leve da luz, que é o perfume sutil dos altos sentimentos e energia vital das vontades ardentes, quem poderá compreender sua origem misteriosa e o segredo de sua força imortal?

Pesado fardo de instintos, de desesperos, de dores, de revoltas, de aflições, corpo gigantesco de Caliban, quem, senão Ariel poderá envolvê-lo, dominá-lo com o magnetismo das supremas energias e guiá-lo, como os que guiavam, na pista romana, as quadrigas frementes de brutalidades cegas?

Tudo o que é luta cruel, no bojo das massas humanas, ou no recesso mesmo do Ser; conflagração de desejos e violências, de gritos da matéria em atrito consigo própria, de clamor de emoções e estrupido de paixões arrebatadas; tudo o que ateia as batalhas tremendas dos grupos sociais entre si, dos partidos em guerra, dos homens em mútua desconfiança, das consciências em tormenta que os contrastes dos conceitos e dos sentimentos incendeia; e tudo o que se exprime, na brutalidade e na incompreensão, na inconsciência e na demência, a crueldade esmagadora, - tudo isso, o espírito imponderável, diáfano, sem peso, sem medida, sem substancia, irrevelável às interpretações grosseiras do Universo, toma, como quem toma um volume de argila, para plasmar eternos ritmos e supremas harmonias!

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Esta nossa luta, camisas-verdes da Pátria, é a revelação diária, hora a hora, minuto a minuto, do mistério de Ariel.

Ariel está vivo, está presente, está atuando, está agindo, está conduzindo, está, cada vez mais, dominando.

Caliban se agita, se contorce; seus músculos formidáveis se retesam, sua face estampa os rictus das revoltas surdas; suas narinas ofegam; seus nervos vibram; suas veias entumecem; uma força tremenda se desencadeia dele. Mas a voz de Ariel é límpida como as estrelas. A vontade de Ariel é decisiva como um raio. O sentimento de Ariel é harmonioso como a música das esferas. E Ariel comanda. E Caliban obedece. E Ariel deseja. E Caliban executa. O fascínio de Ariel é o misterioso segredo da rota dos astros.

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Quando Caliban pensa que dominou, que venceu, que esmagou Ariel, é exatamente quando Ariel está senhor absoluto dos músculos de Caliban, que espírito alado - Pensamento intangível, Sentimento superador -aproveita no plano material para a execução de seus desejos.

Dentro do nosso movimento e dentro da Nacionalidade, como no interior de cada um de vós, o Espírito Imortal exerce o seu magnetismo arrebatador.

Caliban é a grande massa popular inconsciente; é a massa bruta dos partidos políticos; é o rancor dos chefes das facções, empenhados em esmagar-vos; é a cólera abafada dos medíocres, armando-vos ciladas; é a inveja dos pretenciosos, dos consagrados numa época morta, dos vaidosos de títulos que possuem e de cargos que ocupam; é a desconfiança de grupos civis, militares, culturais, religiosos, econômicos, em face da vossa intrépida marcha serena e luminosa; é o braço do perseguidor; é a mão do que escreve ou assina medidas contra vós; é a mentira com que vos ferem, a má fé com que vos acusam; é o rosnar da calúnia e o uivar da injúria; é, principalmente, o peso das indiferenças marmóreas, dos desdéns, das incompreensões, do letargo plúmbeo de todos os que tombaram no torpor cataléptico das imobilidades da inteligência, da vontade e do coração.

Ariel é esta força desconhecida, imponderável que nos conduz e nos consola, que nos anima e vivifica, que nos inspira a esperança e a certeza nas horas trágicas da Nacionalidade.

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Ariel! Assim chamaremos à luz do nosso espírito e a esta coisa misteriosa que nós mesmos não podemos decifrar, cujas origens não podemos precisar, este "não sei que", esta secreta vibração, este "quase nada", que em nós é TUDO, fonte de resistência aos sacrifícios, alegria da luta, auréola de combatentes.

Ariel! Ariel! Como esta palavra, à falta de outra que exprima o fenômeno da psicologia integralista, a mística da Humanidade e da Pátria, a intuição das Coisas Eternas, exprime a majestade dos ritmos perenes sobre todas as efemeridades precárias!

Quando lutamos não apenas contra o meio, contra as hordas dos maus, contra uma civilização, mas, face a face, conosco mesmos, como sentimos Ariel dominando Caliban!

Caliban, então, é a nossa tristeza, são as nossas amarguras, são as nossas incertezas, são as nossas cóleras fulmíneas, é a melancolia que rói, o tédio que tenta desencantar-nos... É, também, o peso dos íntimos sofrimentos, a trituração da alma nas horas aziagas, os desgostos de cada instante, os aborrecimentos de cada dia... É ainda a incapacidade para resistir agruras comuns da existência, dores morais deprimentes, os sentimentalismos doentios que tentam paralisar nossa marcha... Caliban são as insuficiências morais de cada um, revelando-se em impulsos arrebatados, em atitudes de egoísmo, em incapacidades de suportar, em açodamento, em precipitação, em imediatismo... Caliban vive no corpo da sociedade e vive dentro do sangue daqueles mesmos que pretendem dominá-lo.

Caliban é o espírito materialista do Século. Caliban é a negação de Deus. Caliban é a violência de Sorel e a opressão dos plutocratas, a lei do ódio dos comunistas, a grosseria de uma sociedade governada pelo sexo e pelo estomago. Caliban é o imperialismo financeiro. Caliban são os golpes de Estado dos ambiciosos do Poder. Caliban é a bandeira dos instintos desfraldada contra a bandeira da alma.

Caliban é como os filhos de Tubalcain, que constroem hoje arranha-céus e expulsam Deus das cidades. Caliban é o sofisma científico, opondo- se à verdadeira ciência e às reais finalidades do homem. Caliban é o peso das consciências atormentadas pela escravidão dos instintos. Caliban é todo um sentido de civilização que resplandece nas coisas materiais e entenebrece o coração dos habitantes das metrópoles.

Caliban manda apagar as estrelas para acender reclames luminosos. Porque ele é também a concorrência comercial desenfreada e sem controle de nenhum Poder com base no Espírito e no equilíbrio humano. Caliban é a materialidade de um século, esmagando o Homem.

Devemos lutar, esmagar Caliban? Não: devemos dominá-lo. É a lição de Ariel. E Ariel é a força imortal que nos conduz.

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Essa força é cada vez mais viva, quando se tira partido do sofrimento para que ela resplandeça. É preciso sofrimentos. É preciso muita dor. Sobre a treva das angustias íntimas, das torturas que sobem do coração e morrem nos lábios, das agonias em que nos debatemos com a superior elegância de um sorriso, nestes dias de fim de Civilização, que, em tudo e por tudo, ferem e magoam os que são contemporâneos, não dos que os cercam, porém, do Futuro, onde novas gerações os esperam; sobre as tremendas batalhas íntimas que só os loucos desconhecem nesta fase da História, - alvorece a estrela da manhã. É Ariel. Espírito alado, alma leve da luz. É Ariel, inspiração divina nos homens de boa vontade. Supremo dominador das contingências. Perpetuidade sobre as efemeridades. Sentido novo do mundo, sopro imortal do Verbo.

Caliban é de chumbo. Tem a cor das tempestades no céu e no mar. Tem a peso dos corpos gigantescos. Tem a incoordenação dos movimentos. Não conhece lógica. Não entende os superiores ritmos da harmonia. É forte e poderoso, mas é estúpido e cego. Não conhece a palavra "construção", porque só aprendeu a palavra "destruição". Ignora a palavra "paz", porque só lhe ensinaram a palavra "ódio" Jamais ouviu falar em "perseverança", porque só age pela "inconstância". Ao raciocínio responde com o impulso. À ideia, responde com o insulto. Ao sentimento, responde com a brutalidade. A delicadeza opõe a grosseria; à virtude, contradiz com o vício, a explosão dos instintos e a cegueira dos prazeres fúteis.

Ariel é de luz. Mais imponderável do que a luz. Mais luminoso do que a luz. Mais vivo. Mais ágil. Mais dominador.

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Caliban é a vida em função da morte.

Ariel é a vida em função da própria vida, eternizada no Espírito.

Dentro de cada criatura humana, como dentro de cada Nação, o destino de Caliban será o de ser dominado pela força de Ariel. Essa força não é material, mas governa as forcas materiais. Essa força é aquela mesma que proveio, certamente, da força das forças, da energia das energias, e esteve antes das nebulosas, no infinito dos tempos, engendrando os espaços, antes, muito antes que a matéria clamasse na sua treva,

Espírito de Ariel! De Ariel, ou o que quer que sejas! Sentido de harmonia dos mistérios imortais! Ilumina a minha Pátria e a consciência dos nossos contemporâneos, para que compreendam o drama dos camisas-verdes! Ilumina, principalmente, os camisas-verdes para que aprendam cada vez mais, a sofrer, para que neles cintile por sobre as triturações de todas as dores, a tua luz e a tua força. Caliban é uma força sem destino, um pesado fardo sem endereço. É a inconsequência e a cegueira, é a surdez e a insensibilidade de alma. Toma essa força, Ariel, dá-lhe o supremo objetivo na glorificação do espírito!

Ariel, enigma, luz que sentimos e energia suscitada dentro de nós pelo destino de uma Pátria. Toma a ti, Ariel, a missão de nos inspirar. Eis o livro da nossa História de Poro.

Escreve a História do Brasil com a tua luz.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 26 de Abril de 1936.

domingo, 7 de abril de 2024

PERANTE O TRIBUNAL DA HISTÓRIA (25/04/1936)

 Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

PERANTE O TRIBUNAL DA HISTÓRIA (25/04/1936)

Plínio Salgado

Escrevo estas linhas, meus caros camisas-verdes, como subsídio para a História da nossa Pátria. Um dia, o historiador terá de estudar este momento que atravessamos. Dentro deste momento, a posteridade encontrará o Integralismo. Terá de estudá-lo, na sua significação, na sua extensão, no seu volume, na sua projeção nacional e na sua repercussão no estrangeiro. Terão, ainda os pósteros, de estudar, na hora presente, o surto comunista, a penetração da propaganda e das organizações secretas de Moscou, O crítico da História examinará o que representou o Integralismo como reação do organismo nacional penetrado do vírus deletério da corrupção. Estudará a atuação dos partidos políticos. Examinará a atitude dos homens de governo. Deduzirá conclusões para os julgamentos que pertencem ao Futuro.

Escrevo, pois, estas linhas, não para vós, nem para os nossos contemporâneos, porém, para aqueles cujo julgamento será definitivo, em face de tudo o que ainda pode acontecer no Brasil.

Não estou compondo um artigo, não estou nem louvando, nem comentando, nem julgando, pois louvor, acusação, comentário, "veredictum", a mim não me pertencem, que sou parte no feito, nem me competiria antecipar aquilo que a seu tempo chegará.

Quero, aqui, apenas, registrar fatos, para que não haja enganos de futuro e se conheçam, com exatidão, as posições assumidas e as responsabilidades definidas nesta hora incerta.

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O Integralismo está sendo perseguido na Bahia, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Norte, como já o foi, até há pouco, em Santa Catarina.

Escrevo estas linhas no ano de mil novecentos e trinta e seis, no mês de abril, dia 24, em que recebi um telegrama do nosso chefe provincial do Paraná, anunciando que o governo do Estado acaba de determinar o fechamento de todos os núcleos integralistas no território paranaense.

Nesta mesma ocasião, recebo numerosas cartas da Bahia, desesperadas, aflitas, de camisas-verdes do sertão (região de Canudos), das zonas do cacau e do tabaco, e vários pontos do litoral, comunicando tudo quanto ali estão sofrendo os integralistas: vexames, violências, restrições a todas as liberdades.

Também, nesta data, os jornais do Rio publicam um ofício do chefe de Polícia de Minas Gerais, à Corte de Apelação, atendendo ao pedido de informações daquele tribunal em autos de "habeas-corpus", impetrado a favor de camisas-verdes da pequenina cidade de Jacutinga, presos Ilegalmente, ofício em que aquela autoridade informa que os integralistas em questão tramam contra a segurança do Estado. O chefe de Polícia declara não poder revelar as provas da tremenda conspiração dos moços de Jacutinga, cidadezinha cujo nome só agora está em foco, em razão da importância que lhe deu nestes oito milhões de quilômetros quadrados a polícia de Minas Gerais.

Neste mesmo dia 24 de abril de mil novecentos e trinta e seis, V Ano da Era Integralista, o Chefe de Polícia da Capital da República, na vigência do "estado de guerra" decretado pelo Chefe da Nação, declara em carta, que se tornou documento público, pelas colunas do Jornal A OFFENSIVA, contemporâneo destes acontecimentos, o seguinte:

"Respondendo sua carta de 15 do corrente, na qual V. S. me pede para dar o meu testemunho de que a Acção Integralista Brasileira nenhuma restrição ou constrangimento tem sofrido, no Distrito Federal, mesmo com o "estado de guerra", pelo que vem e continua funcionando em todos os seus departamentos, tenho a satisfação de declarar a V. S que, de fato, nenhuma restrição foi feita ou determinada por esta chefia de Polícia com relação a A.I.B.

Esta orientação foi adotada, por se tratar, no caso, de um partido político, legalmente registrado no Supremo Tribunal de Justiça Eleitoral, que, até o presente momento, tem feito sua propaganda dentro da ordem, nada justificando, portanto, uma ação repressiva contra o mesmo.

Com alta estima e consideração, sou de V. S. patrício e ad. Attº. - (a.) F. MULLER."

Não quero, de modo nenhum, julgar aqueles perseguidores do Integralismo e este Chefe de Polícia, cujo nome é Filinto Muller, e que se exprime pela forma acima.

Não me compete julgar o Integralismo. Não me esqueço da carta que Plinio, a Moço, governador da Bitinia, dirigiu ao Imperador Trajano, sobre os cristãos. O autor das "Cartas", espírito atilado, compreendeu que não deveria avançar um juízo, sendo contemporâneo dos fatos de que tratava. Sua missiva é meramente expositiva.

E hoje eu não estou escrevendo como Chefe do Integralismo, e sim, oferecendo um testemunho aos historiadores do Futuro. Esses, estudarão o que foi o Integralismo, o que ele pretendeu (e. posso dizer mesmo o que ele realizou, pois, a nossa vitória agora se tornou fatal, depois das perseguições). E é bom que os historiadores saibam quais os perseguidores desse movimento e quais as autoridades que não agiram contra ele.

Andará bem o sr. Filinto Muller, ou andarão bem os governadores e chefes de polícia provincianos que assim se colocam em atitude tão oposta e desprestigiante do Chefe de Polícia da Capital da República?

Também os Tribunais e numerosos Juízes têm concedido "habeas-corpus" a mandados de segurança aos camisas-verdes. Estarão eles andando certo, ou certos se encontram os que violam as liberdades dos integralistas?

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Informo ainda aos historiadores do Futuro que o nosso programa está contido nos Estatutos com que nos registrámos como partido político nacional. Informo que somos o único partido nacional. Informo que temos cooperado com Chefe de Polícia da Capital da República, com os comandantes de regiões militares e delegados de polícia de todo o país, na manutenção da ordem, todas as vezes em que os comunistas ameaçam dar seus golpes. Informo que tenho tido entendimentos pessoais com vários comandantes de regiões militares, ora para combinar ação conjunta na repressão do comunismo, ora para receber agradecimentos por serviços que os integralistas têm prestado à sustentação das autoridades da República. Informo ainda ao historiador que, na Bahia, onde estamos sendo perseguidos, nossa atuação foi eficientíssima, contribuindo para evitar o surto bolchevista em novembro. Informo que o mesmo se deu no Paraná e em Minas Gerais. Informo que posso provar isso no momento que for necessário. Informo que telegrafei ao presidente da República em novembro, oferecendo-lhe cem mil homens para a defesa do Governo. Informo que o presidente da República me agradeceu num belíssimo telegrama em que enaltece a atitude dos camisas-verdes. Informo que os políticos e os jornalistas a soldo da politicagem, declararam não acreditar que eu dispusesse desse número. Informo que, logo em seguida, a Justiça Eleitoral se incumbiu de responder-lhes, pois já apurou, em apenas oito Províncias, perto de cento e cinquenta mil votos integralistas. Informo que o Integralismo é registrado como partido nacional, no Superior Tribunal Eleitoral. Informo que o Integralismo já elegeu deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e juízes de paz. Informo que existe neste ano da graça de 1936, na Capital da República, uma polícia chefiada pelo capitão Muller, que é a melhor do Brasil. Informo que essa polícia nunca descobriu nada contra o Integralismo, como se viu da carta que publicamos atrás.

Informo, finalmente, aos historiadores que, neste ano da Era Cristã de 1936, eu já acreditava, debaixo das mais tremendas perseguições, na vitória do Integralismo.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 25 de Abril de 1936.

sábado, 6 de abril de 2024

Estado Totalitário e Estado Integral (01/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Estado Totalitário e Estado Integral (01/11/1936)

Plínio Salgado

- Os integralistas querem o Estado Totalitário?

- Não; os integralistas querem o Estado Integral.

- O Estado Totalitário não é a mesma coisa que o Estado Integral?

- Não. O Estado Totalitário tem uma finalidade em si próprio; absorve todas as expressões nacionais e sociais, econômicas, culturais e religiosas; subordina a “pessoa humana” e os grupos naturais ao seu império. O Estado Integral, ao contrário, não tem uma finalidade em si próprio; não absorve as expressões nacionais e sociais, econômicas, culturais e religiosas; não subordina a “pessoa humana” e os grupos naturais ao seu império; o que ele objetiva, é a harmonia entre todas essas expressões, a intangibilidade da “pessoa humana”.

- Por que motivo os integralistas não querem o Estado Totalitário?

- Os integralistas não querem o Estado Totalitário, porque os integralistas adotam uma filosofia totalista, isto é, eles têm do mundo uma concepção totalitária .

- Não há uma contradição nisso? Se os integralistas concebem o universo de um ponto de vista totalitário, como é que não concebem o Estado da mesma maneira?

- Os integralistas são lógicos, tendo uma concepção totalitária do mundo e uma concepção não totalitária do Estado. É evidente que, sendo o Estado uma das expressões do mundo, se este é considerado em seu conjunto, o Estado tem de ser considerado como uma "parte" do conjunto. Se adotarmos o Estado Totalitário, então‚ é que ficamos em contradição, fazendo que uma "parte" absorva as outras partes.

- Mas um jornalista escreveu, há dias, que os integralistas ensinam uma doutrina confusa, porquanto o Estado Forte, o Estado Leviatã de Hobbes compreende a absorção de todos os elementos sociais pela autoridade estatal... Como respondem os integralistas?

- Coitado do jornalista, é um principiante. Mistura tudo. Ouviu falar em Hobbes, sem ter a menor noção do assunto. Basta dizer que Hobbes é um materialista, um naturalista, ao passo que nós somos espiritualistas. A conclusão a que Hobbes chegava, era a de que o homem não presta, é inclinado aos vícios e à maldade e, por conseguinte, a sociedade tinha de ser governada com pulso de ferro, por um Estado absorvente de todas as liberdades, impondo a disciplina pela Força. Esse‚ o Estado Leviatã hipertrofiado e gigantesco. Ao contrário de Hobbes, um outro filósofo chamado Locke, também materialista, também naturalista, pensava que o homem é bom, que as leis, o arbítrio do Estado é que o tornam mau. Baseado no mesmo materialismo experimental de Hobbes, chegava Locke à conclusão de que cumpria dar a máxima liberdade aos indivíduos, competindo ao Estado assegurar essa máxima liberdade. Bastava isso para que tudo corresse no melhor dos mundos. Também J. J. Rousseau foi da mesma opinião de Locke. O "homem natural" de Rousseau exprime todo o seu pensamento político. O curioso nisto tudo é que, partindo de um mesmo princípio (o naturalismo), Hobbes separa-se de Locke, porém ambos vão encontrar-se nas últimas consequências do Estado Liberal, isto é, no comunismo bolchevista, no Estado Socialista, que destrói toda a personalidade humana, os grupos naturais, a liberdade. Tanto Hobbes como Locke e Rousseau, são “unilaterais”. O primeiro considera o Estado e pretende fortalecê-lo contra o Indivíduo. O segundo considera o Indivíduo e pretende armá-lo contra o Estado. Nós, integralistas, consideramos a autoridade do Estado como uma força mantenedora do equilíbrio, de harmonia, dentro das quais gravitarão inter-independentes e sem choques, os grupos naturais e a personalidade humana. A "autoridade do Estado", para nós, integralistas, não é "superior" nem "inferior" aos outros "valores" sociais e nacionais ("Família", "Corporação" e "Município"; "Cultura", "Economia" e "Religião"). Trata-se de um "valor" diferente, de um elemento de natureza diversa, que entra na composição das harmonias sociais e humanas. Mantendo íntegras cada uma dessas expressões humanas, o Estado Integral também a si próprio se mantém íntegro. Ele não entrará nos domínios próprios de cada uma dessas expressões humanas ("Família", "Corporação" e "Município"; "Cultura", "Economia" ou "Religião"), mas também não permitirá que qualquer delas pretenda absorvê-lo. A missão do Estado Integral é manter equilíbrios, sustentar as harmonias sociais. Para isso, ele reivindica para si todas as prerrogativas que lhe foram arrancadas e lhe são inerentes, mas nem por isso ele fere os legítimos direitos de cada um dos fatores humanos constitutivos do conjunto nacional.

- O Estado Forte não é  Estado Totalitário?

- Não. O Estado Forte é aquele cuja autoridade moral se fortalece pelo respeito que esse mesmo Estado vota à intangibilidade da “pessoa humana” e de todas as suas expressões grupais ou sociais. O Estado Totalitário seria o Estado Arbitrário. O Estado Integral é o Estado de Direito, o Estado Mediador, o Estado Ético, conforme um princípio espiritualista e cristão.

- O Estado Integral é um Estado Forte?

- É o único Estado Forte, justamente porque não é arbitrário, nem absorvente, nem anulador de legítimas liberdades.

- Como consegue o Estado Integral ser forte e sem contrastes?

- Criando a consciência das "diferenciações" dos grupos humanos e das expressões sociais que passam a gravitar harmoniosamente no sentido do bem comum, cada qual com sua própria natureza, sua própria função, seus próprios objetivos. O Estado, por sua vez, penetra-se dessa consciência da sua natureza, da sua função e dos seus objetivos. Princípios imutáveis fixam os limites de ação de cada pessoa e de cada grupo, assim como de cada expressão humana (Cultura, Economia, Religião). O Estado se fortalece, guardando os seus próprios limites e defendendo e sustentando as suas prerrogativas.

- Como se entendem as prerrogativas do Estado?

- Entendem-se não como direitos, porém como deveres.

O mesmo jornalista acusou o Integralismo de não agir violentamente, para atingir o Poder; outros apontam o Integralismo como doutrina filiada ao fascismo e procuram demonstrar ser este um adepto de Sorel, tanto quanto o comunismo. Que respondem a essas coisas os integralistas?

- O pobre jornalista é, nestes assuntos, um estudante de curso primário. Os outros acusadores não o são menos. O Integralismo não tem agido pela violência, justamente porque nada tem que ver com Sorel. O autor das "Reflexões sobre a Violência" é materialista, evolucionista, darwiniano. Toda a sua doutrina é baseada no "struggle for life", ao ponto que ele preconiza, como etapa indispensável da luta de classe, o fortalecimento da burguesia. Como Marx, que é naturalista e continuador dos economistas liberais, Sorel aceita, integralmente, os mesmos princípios que já estavam em Hobbes, em Locke, em Rousseau. Só o fato de nós sermos espiritualistas evidencia que não somos soreleanos, que não adotamos a teoria da violência, pois seria a negação da nossa doutrina. Nossa doutrina, a respeito do emprego da força é clara e não admite dúvida. Em princípio, condenamos toda e qualquer sedição; todas as conspirações, todos os golpes de mão; respeitamos a autoridade constituída; esse respeito irá até ao dia em que a referida autoridade já não puder manter o próprio princípio da sua autoridade e já não tiver meios de fazer a Lei, a Constituição serem cumpridas. Se isso acontecer, se praticamente não existir mais autoridade, então será em obediência ao próprio princípio da autoridade que os integralistas terão o dever de usar da força, caso disponham dela, para evitar desgraças maiores, como a implantação do comunismo ou uma situação de anarquia. Essa doutrina é a própria doutrina da Ordem no que ela tem de mais profundo. Ora, dentro desses princípios, respeitando as leis e as autoridades do país, não somos incoerentes e, sim, afirmamos a nossa coerência e a nossa dignidade de pensamento. Quanto ao fascismo, que dizem ser discípulo de Sorel como o bolchevismo, o caso é um pouco diferente.

- Poderão os integralistas explicar a posição doutrinária do fascismo em face do bolchevismo e do Integralismo?

- No fascismo cumpre distinguir dois aspectos: o da campanha política e o da construção do Estado. Surgindo num período de desordem completa, de quase domínio do bolchevismo na Itália, o fascismo não teve em mira seguir nenhum texto de ideólogo ou de pensador. Cumpria era salvar a Nação de perigo iminente e não creio que os camisas-pretas, naquele instante, andassem discutindo nenhuma questão doutrinária. Foi uma luta de rua, foi uma luta eleitoral e de grupos armados, em tudo semelhante às lutas políticas brasileiras. Os coronéis de aldeia, os bacharéis chefes políticos, que "metiam o pau" e ainda, até hoje, cometem tropelias eleitorais neste país, nem sabem se Sorel existiu algum dia. Na Itália, foi a mesma coisa. Depois da vitória, Mussolini enfeitou aquela luta com respingos literários e apareceu o nome de Sorel. Tornou-se um hábito dizer-se que, o fascismo, tanto quanto o bolchevismo, receberam lições na mesma escola, leram o mesmo livro das "Reflexões sobre a violência". Sim; eles, os "arditti", os ex-combatentes, os camisas-pretas, leram tanta Sorel como o coronel Serapião de Santa Luzia do Olho d'Água, que manda escanchar a guatambú os seus adversários nos pleitos municipais... Quanto à parte construtiva do fascismo, todos sabemos que a doutrina foi se formando devagar, entrando em colaboração as mais várias tendências. Motivos de ordem prática imediata foram ditando a transformação do Estado, obra quase de sedimentação sobre o arcabouço da velha Constituição. A cultura fascista é mais de comentadores dos "fatos" do que de teorizadores do Estado. Todos os grupos colaboraram: os idealistas de Gentile, os ultra-idealistas de Tilgher, os niestcheanos de D'Annunzio, o espírito revolucionário de Corradini, o futurismo de Marinetti, o superior senso jurídico de Rocco. O que há de comum entre o fascismo e o Integralismo é a exaltação nacionalista e o sentido de harmonia social. O fascismo marcha para o Integralismo. Quanto aо bolchevismo, o fascismo nada tem que ver ele. Basta o caráter materialista do comunismo, para se excluir qualquer parentesco com o fascismo. O fascismo não é, pois, um extremismo, é una reação nacional e uma revolução idealista. Quanto ao Integralismo, é a criação de uma Nacionalidade e o lançamento de uma doutrina de Estado.

- E o Estado Integral é anti-democratico?

- Não; o Estado Integral que restaurar a democracia que já não existe no Brasil. Não é um destruidor do regímen, mas o criador de novos órgãos capazes de revitalizar um regímen morto.

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- A lição já vai longa. Estou, entretanto, sempre às ordens dos patrícios de inteligência tarda. Um milhão de brasileiros já sabe tudo isso, já entendem tudo. Só não entenderam ainda duas espécies de homens: os velhacos e os retardados mentais. Ao cabo de quatro anos de doutrinação permanente, estou ainda com o mesmo bom humor e a mesma paciência para explicar. Não, é claro, aos velhacos, mas aos de inteligência dura, aos vagarosos mentais. É não fazer cerimônias. Ir perguntando.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 01 de Novembro de 1936.

Direito e dever de exigir (03/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Direito e dever de exigir (03/11/1936)

Plínio Salgado

Os próprios integralistas não têm, não podem ter noção do volume do Movimento a que pertencem. Nem mesmo os Secretários Nacionais, cujo trabalho é enorme, podem avaliar o que seria em conjunto, o funcionamento desta máquina colossal que é a Acção Integralista Brasileira.

Se eu dispusesse de grandes recursos financeiros, por certo que o meu trabalho seria diminuído em pequena parte. Mesmo assim, ficar-me-ia uma tarefa gigantesca. Quanto mais que, como tem sido desde o primeiro dia, supro com atividade permanente as deficiências materiais.

É preciso considerar que o Integralismo, além de ser um partido político de âmbito nacional, o que, só, cumula de trabalho contínuo e absorvente a um homem na sua chefia, é também uma sociedade civil com fins múltiplos: de assistência social, de educação moral e cívica, de cultura filosófica, científica e política, de cultura artística, de propaganda no Exterior.

Cada um desses setores se subdivide. Assim, o sector de assistência social se subdivide em assistência médica, assistência judiciária, colocações, assistência econômica, assistência à infância. O setor de educação moral, cívica e física, subdivide- se em organizações da infância, da juventude e de adultos, abrangendo variados cursos. O sector de cultura geral, abrange todo um movimento de cursos, conferências, edições de livros, departamentos e secções de pesquisas e estudos. O sector de cultura artística abrange a literatura, a pintura, a escultura, a música, a arquitetura.

Temos uma Secretaria de Arregimentação Feminina, uma Secretaria de Propaganda, uma Secretaria de Assistência Social, outra de Finanças, outra de Corporações e Serviços Eleitoris, outra de Doutrina e Estudos, outra de Cultura Artística, outra de Imprensa, outra de Educação Física e Cívica, outra de Relações com o Exterior.

Além desses serviços, cada um dos quais exige um exército de funcionários, temos ainda o formidável expediente da Chefia Nacional.

Estou em contato com as dez Secretarias Nacionais, com os membros do Supremo Conselho Integralista, com a Câmara dos Quarenta e suas cinco comissões, com os 23 Chefes Provinciais, cada qual com uma infinidade de assuntos a tratar comigo.

Só no tocante ao partido político que é a A.I. B., isto me dá um trabalho colossal, pelo crescimento, cada vez maior do integralismo e complexidade de seus serviços. Temos o trabalho eleitoral e o trabalho sindical, a luta com os nossos adversários, não se falando no tempo que gasto em atender a próceres políticos não integralistas ou personalidades que me procuram. O trabalho político é feito por intermédio da Secretaria das Corporações e Serviços Eleitorais mas uma infinidade de coisas me vêm para serem resolvidas por mim, diretamente, e não há outro remédio.

Os meus patícios precisam ter em vista queu não sou apenas o Chefe de um partido nacional, mas o Chefe de uma organização nacional de numerosos serviços de natureza diversíssima. Além disso, chefio um Movimento cultural, que oriento filosófica e politicamente. Oriento uma revolução no campo do pensamento e várias revoluções em vários setores, porque o Integralismo é um "método" a se aplicar a todos os ramos das atividades intelectuais humanas.

No Brasil já houve um chefe político que cuidava de assuntos políticos no Brasil inteiro. Chamava-se Pinheiro Machado. Mas cuidava só de política. No Brasil já houve filósofos, como Farias Brito, Sylvio Romero, Tobias Barreto, mas cuidavam só de filosofia.

No Brasil já houve e á Jornalistas que dirigiram ou dirigem um, dois ou mais jornais, mas cuidavam e cuidam só do jornalismo.

No Brasil já houve e há sociólogos, que pesquisam sobre as realidades brasileiras, mas cuidaram ou cuidam somente de sociologia.

No Brasil já houve oradores, como Ruy Barbosa, que fazia campanhas políticas pronunciando duas dúzias de discursos numa campanha, mas esses só cuidavam dos discursos, sendo a parte de organização e de direção prática afeta a outros.

No Brasil já houve e há propagandistas de campanhas nacionalistas, mas só cuidaram de campanhas nacionalistas.

Quem publica livros, só publica livros, quem faz jornalismo, só faz Jornalismo; quem chefia partido, só chefia partido; quem faz discursos não faz outra coisa; quem dirige sociedades beneficentes ou culturais, não tem tempo para dirigir outras coisas.

Pois eu ando há quatro anos chefiando partido (e partido nacional); publicando livros (e neste tempo já pus dez a lume); fazendo discursos, e já realizei cerca de 800 conferências; dirigindo um plano de assistência social e de educação popular; e trabalhando em jornal (aqui compareço diariamente, não se falando nos outros jornais em que escrevo).

Isto é um trabalho colossal. Só o tempo que gasto em atender os que me procuram, em ler as cartas e telegramas que recebo (os mais selecionados, pois o grosso é lido pelos Secretários) é um tempo enorme.

Acrescente-se que faço frequentes viagens, que presido a congressos, que leio regulamentos, diretivas, que presido a trabalhos de comissões, e meus patrícios terão uma pequenina ideia do que é o meu serviço.

Conheço pessoalmente a milhares de Integralistas de todo o país, resolvo casos pessoais, atendo paternalmente os que me procuram, ando em dia com o Movimento em todos os Municípios do Brasil e estou a par da quase totalidade dos aspectos políticos municipais.

Ainda arranjo tempo para ler jornais, dar entrevistas no país e no exterior.

Fazendo tudo isso, dar-me-ei por satisfeito se conseguir evitar que o Brasil se esfacele no separatismo ou se avilte ao comunismo, e se as gerações de hoje lançarem os sólidos alicerces de uma nova civilização, de uma cultura, de uma política genuinamente brasileira.

Não trabalho num país pequeno como a Alemanha ou a Itália, como a Bélgica, ou Portugal, como a França, ou a Áustria. Trabalho num país que tem o tamanho da Europa, sem meios de comunicações fáceis.

Não recebo dinheiro do Soviet, como esses covardes que se dizem liberais democratas, defensores do regímen, enquanto preparam na sombra o golpe contra a República. Não tenho à minha disposição tesouros de Estados, como certos governadores metidos a Messias em discursos e atitudes de pais da Pátria. Não prometo emprego; nem dinheiro, pelo contrário, exijo sacrifício, disciplina. Não vivo agradando nem fazendo salamaleques a ninguém. Não peço a ninguém para vir para o Integralismo. Lanço a doutrina da dignidade nacional e do sentimento de humanidade, de justiça, de espiritualismo.

Esse é o meu trabalho. Não o faço por ambição, pois não sou daqueles que pedem cousas à Pátria, mas daqueles que querem dar à Pátria, sem paga de espécie alguma.

Não estou fazendo nenhuma questão, nem de atingir o Poder, nem de chefiar este Movimento. Não fico agradecido a quem quer que seja pelo fato de vestir a camisa-verde. Seria uma indignidade para mim e para esse alguém, que eu lhe agradecesse pelo fato de cumprir um dever de honra, de brio, de honestidade.

Fazendo o que faço, entendo que os que assim não fazem não são dignos do Brasil nem dos seus descendentes. Estamos num momento decisivo. Ou damos tudo pelo Brasil, ou nos aviltamos perante a nossa própria consciência. Essa é a palavra de um homem que trabalha 18 horas por dia, há quatro anos, sofrendo toda a sorte de injúrias covardes e diatribes infames, aguentando caladamente o peso dos maiores padecimentos, e que, nesta hora, sente-se com o direito de se dirigir de cabeça erguida aos seus patrícios para lhes dizer: quem não estiver comigo não esta com o Brasil, porque eu nada quero senão a grandeza e felicidade do meu Povo, pois o prêmio não o busco na efemeridade deste mundo nem na fraqueza dos corações humanos, senão no seio d'Aquele por cujo amor desejo uma Grande e Luminosa Nação.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 03 de Novembro de 1936.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

SUCESSÃO PRESIDENCIAL (24/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

SUCESSÃO PRESIDENCIAL (24/04/1936)

Plínio Salgado

A "Acção Integralista Brasileira" é uma sociedade civil e um partido político de âmbito nacional, devidamente registrado no Superior Tribunal Eleitoral, de conformidade com as leis vigentes.

Constitui, pois, o Integralismo, a única força com raízes profundas em todas as circunscrições da República. É a única corrente de caráter nacional. É a única massa homogênea da opinião civil do país.

Existem no Brasil muitos partidos políticos, mas todos eles são de âmbito provincial. Alguns desses partidos apresentam considerável volume de adeptos, todos preocupados com a solução do caso político do Estado a que pertencem.

A política, para esses partidos regionais, exercida no sentido da conquista ou da manutenção do predomínio dos seus grupos dirigentes, dentro das áreas de seu âmbito de ação, Toda e qualquer articulação de tais partidos com outros congêneres da Federação se realiza segundo a maior ou menor soma de interesses auferidos pelas partes contratantes no círculo das influências eleitorais de cada uma. De um modo geral, a própria hegemonia nacional, pleiteada através de manobras hábeis, é encarada como uma condição de maior solidez da corrente regional, em face de seu adversário imediato, o opositor provincial.

Quando se trata, pois, de uma composição dessas forças políticas de caráter tão restrito e tão alheias aos lineamentos gerais dos interesses supremos da Nação, esse entendimento, por mais que queiram iludir ou se queiram iludir os próceres regionalistas, jamais se efetuará num senso elevado de unidade de consciência da Pátria. Daí todas as dificuldades que se anteparam àqueles que metem mãos à obra de alicerçar o edifício da unidade política sobre as bases precárias da desagregação partidária do país.

Num momento grave, como o que atravessamos, verifica-se a inviabilidade de uma estrutura que se pretende compor com as heterogeneidades partidárias. Todo esforço tendente a criar uma força homogênea redunda, logicamente, em certas restrições de interesses regionais, que enfraquecem o poder político da facção estadual.

Por uma lei de equilíbrio e composição de forças, tão exata no mundo físico, tal se revela no mundo moral, psicológico da política brasileira, o aumento do poder centrípeto da ideia nacional corresponde a uma diminuição de resistência das estruturas provinciais.

O federalismo, levado ao excesso da compreensão da Província como Estado, tem um caráter de centrifugismo político, operando gradativamente uma deslocação de massas sociais que passam a constituir, por sua vez, sistemas próprios com um próprio centro de gravidade.

Já alguém observou que ninguém mais centralizador, no sentido de absorver as prerrogativas da autonomia municipal do que o descentralizador que objetiva o máximo de autonomias provinciais. Estes fenômenos da nossa mentalidade política e das nossas condições psicológicas não devem escapar aos que observam as desesperadas marchas e contramarchas dos políticos desejosos de criar uma corrente de opinião nacional no país, com o fito de apoiar o governo central.

Ora, diante dessa situação, somente os loucos, os cegos, os incapazes de enxergar dois dedos adiante do nariz, poderão crer que seja possível organizar um partido nacional e mesmo uma frente única nacional, tendo por base as estruturas dos interesses regionais tão imperativos neste regímen.

O que fica patente é que a única força de coesão capaz de criar uma corrente de opinião civil homogênea e em condições de dar ao Poder Central o apoio indispensável à gravidade do instante que atravessamos será a força de um Pensamento, de um sistema de ideias, a força de um sentimento liberto do cheiro característico da facção regional.

A experiência política de quarenta anos de República, à qual devemos acrescentar a longa experiência política do Império, só não será suficiente para aqueles que por falta de inteligência e nenhuma capacidade de estadistas ainda queiram viver sob o signo das ilusões falazes, cujo prestígio fantasmagórico se afirma num mundo puramente Ideal, produzindo os cépticos que exclamam "esta não é a República dos meus sonhos!”.

O episódio Silveira Martins-Mauá, nos remotos dias da Monarquia, deveria ser suficiente à acuidade política e segurança na observação dos fenômenos sociais, de modo a que homens do nosso tempo não acreditassem mais nas miragens de um sonho que não encontra nenhum fundamento na realidade da Nação.

Se a política brasileira, evolvendo, desde o Ato Adicional até as últimas arrancadas federalistas do partido liberal do Império, e desde o alvorecer da República até às mais exageradas prerrogativas das unidades federais, redundando em pruridos separatistas, se essa política demonstra que, em face da Unidade Nacional, existem os elementos subtratores, divisores, desagregadores, e os elementos somadores, multiplicadores, agregadores, cumpre ao estadista, que sente as responsabilidades que lhe cabem pela grandeza e prestígio da Pátria Total, não basear os elementos POSITIVOS na força dissociativa dos elementos negativos.

A obra do Integralismo tem sido exatamente agir mediante os fatores positivos da unidade nacional, criando uma mentalidade nova, capaz de compreender a visão panorâmica dos problemas nacionais. Com esses fatores positivos, tenho trabalhado em quatro anos de campanha pertinaz, num apostolado teimoso, servindo-me de uma deliberação íntima que se tornou vontade de ferro, através de todas as dificuldades das distâncias geográficas, da rarefação demográfica, da educação estreita a que se submeteram as últimas gerações e da inconsciência da massa, que ignora seja manobrada politicamente, em detrimento de seus próprios interesses, por forças ocultas do capitalismo internacional ou do comunismo bolchevista. Sobre essa consciência dos interesses comuns de todas as regiões; sobre esse sentimento baseado nas tradições, nos costumes, nos hábitos, na religião, nas tendências artísticas; sobre esse novo pensamento político desdobrador de amplíssimos panoramas nacionais que fascinam as inteligências e os corações dos brasileiros é que eu tenho construído, pedra a pedra, devagar e com firmeza, a Nacionalidade do futuro, que deveremos legar aos nossos descendentes, com dignidade e grandeza.

Eis a razão por que o Integralismo pode lançar sobre o tablado das discussões políticas do país a sua palavra sempre clara, sempre forte, sempre destemerosa, e o faz, ainda agora, sobre o caso da sucessão presidencial da República.

Como preliminar dos acordos precários e das uniões insubsistentes, como condição de êxito de "démarches", os políticos dos grupos regionais querem se comprometer a não tocar tão cedo no problema da sucessão do sr. Getúlio Vargas. É que de tal forma funciona o aparelho da política nacional, que a simples cogitação desse problema não só poria em debandada as partes contratantes como, de certa forma, enfraqueceria o próprio Poder Central.

Isso, que se passa no campo das agitações partidárias regionais, não se passa no campo da grande ação partidária nacional. O único partido nacional do Brasil, a "Acção Integralista Brasileira", quer tratar, pode tratar e tratará, desde já, do problema da sucessão presidencial.

E - fato notável - aquilo que provocaria dissociação nas esferas dos partidos provincianos e inconveniência ao Poder Central, ao contrário, na esfera do partido nacional, do Integralismo, consolida a coesão, fortalece a unidade, e prestigia, muito mais, o Governo Central, as Forças Armadas da Nação e todos os elementos objetivamente positivos da União cada vez mais íntima das energias componentes da Pátria.

Registrado no Superior Tribunal Eleitoral, encontrando-se em pleno funcionamento em todo o território da República, tendo eleito já deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e juízes de paz; tendo levado às urnas, em oito Estados apenas, cerca de 150.000 votos, e devendo levar no todo, quando se realizarem as eleições nos restantes 14 Estados, um total de mais de quatrocentos mil votos; tendo ganho perante juízes de direito, perante Tribunais Eleitorais e Cortes de Apelação, numerosos mandados de segurança e "habeas-corpus" consagradores da sua legitimidade e da alta compreensão do Poder Judiciário; cercado das simpatias de todas as forças que, como o Exército e a Marinha, exprimem índices positivos de unidade nacional; prestigiado pelas opiniões e pareceres de juristas, altas patentes, intelectuais de renome, membros do Governo e do próprio presidente da República, todos concordes em reconhecer a legalidade, a legitimidade, a lealdade, o critério, a segurança e o patriotismo com que se conduz o movimento dos camisas-verdes; o Integralismo Brasileiro objetiva, de uma maneira clara, insofismável, nítida, decisiva, imperiosa, o seguinte:

1º) - de um modo imediato: sustentação do Poder Constituído, a todo o transe;

2º) - a eleição do presidente da República, que será candidato do Integralismo para todos os camisas-verdes da Pátria.

Teremos, pois, candidato. Determino a todos Chefes Provinciais, Governadores de Regiões, Chefes Municipais e Distritais de todo o Brasil, que intensifiquem o trabalho do alistamento eleitoral e a divulgação do nosso Manifesto-Programa. Determino, de um modo particular, que sustentem, defendam o Governo da República, prestigiem o Exército e a Marinha, estejam alertas contra quaisquer investidas comunistas, condenem toda e qualquer mazorca, sedição, golpes armados, venham de onde vierem e com que objetivos vierem. Determino que recorram sempre, em casos de violências, à magistratura do país, pois ainda creio nos juízes da minha Pátria e na sua dignidade. Não se afastem uma linha das leis vigentes.

Essa é a palavra de ordem. Porque iremos às eleições e temos candidato Não transacionamos, não conspiramos, não recuamos e compreendemos as nossas graves responsabilidades.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 24 de Abril de 1936.

domingo, 31 de março de 2024

O Estado Novo (04/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O Estado Novo (04/11/1936)

Plínio Salgado

Li o belo telegrama de Lisboa, descrevendo a formidável manifestação de 50.000 pessoas ao Ministro Salazar. Essa extraordinária demonstração da vitalidade da alma lusitana despertou em meu espírito duas evocações.

A primeira foi a da emoção que senti quando numa bela manhã de céu azul e claro sol, subi à Torre de Belém, e contemplei o Tejo. Barcos de grandes velas pardas corriam mansamente. Eu olhava aquele rio de onde partiram um dia os "barões assinalados". Pensava nas reservas de força e de tenacidade desse pequeno povo que foi dominador dos oceanos, descobridor de continentes, desvendador dos mistérios da Costa d'África e do Mar Tenebroso.

Os brasileiros costumam, depois de visitar todos os países da Europa, passar pela Pátria de seus avós para falar mal dela. Invariavelmente, antes do fascismo e do salazarismo, todos os nossos patrícios que vinham do Velho Mundo, precisavam falar contra a Itália e Portugal, batendo sempre a mesma tecla. Esses nossos patrícios esqueciam-se de duas coisas: 1º) que no tempo em que o progresso, o esplendor, a força das nacionalidades dependia de valentia e de talento, foram esses povos latinos, as repúblicas italianas, os reinos de Espanha e Portugal que dominaram como potências; 2º) que, menosprezando os povos latinos, menosprezávamos as nossas próprias origens, e no menoscabo a Portugal, feriamos diretamente as nossas mais próximas raízes étnicas.

Ali, na Torre de Belém, na bela manhã, eu me lembrava daqueles que, no promontório de Sagres, sonharam a conquista de todos os mares, e da foz do Tejo partiram como audazes gigantes dominadores dos quadrantes do mundo. Considerava que, no advento da hulha e da navegação a vapor, sucedeu o declínio daquele grande pequeno povo, que não possuía carvão de pedra. Pensava quanto nos devemos orgulhar de ter como ancestrais os desbravadores de oceanos e de selvas.

A outra lembrança que me ocorreu foi de Sardinha, o criador do Estado Novo português.

Se não tivesse existido Sardinha não existiria Salazar. Se Sardinha não escrevesse os livros que escreveu e não gastasse os dias de sua luminosa mocidade na criação da mística do Estado Novo. Portugal, hoje, não seria o que é: uma voz respeitada entre as Nações, uma voz que se levanta altivamente e, sozinha, assume atitude desassombrada contra o pérfido Soviete.

As transformações do Estado não se fazem com medalhões, com discursos de governadores ou de deputados ou ministros. A grandeza dos povos não se faz por meio de decretos. O espírito nacional não se desperta só pelo fato de um homem de posição política pronunciar um discurso num banquete.

Enganam-se os que pensam que um país, quando está a pique de desagregação e ruína, pode salvar-se com uma plataforma de governo ou algumas leis modificando as estruturas políticas do Estado.

As leis, antes de serem leis, precisam viver na alma do Povo. O papel apenas consagra o que já foi consagrado na mística popular. A mística popular não se forma de um dia para outro. Ela provem de uma doutrina, e essa doutrina terá tido um longo período em que foi pensada e mais do que pensada, sofrida.

Depois, não basta expor a doutrina. É preciso viver a doutrina. É a obra do apostolado Mas o próprio apostolado não será apostolado, se tiver facilidades. Ele deve encontrar dificuldades, oposições, perseguições e opressões. Deve sofrer as incompreensões. Deve amargar

Um apostolado feito em carros "pulmann", com passes de estrada de ferro, com despesas pagas sem esforço é um apostolado ridículo, incapaz, por isso mesmo, de penetrar alma das massas.

Só o facto do apostolo dispor de empregos, proteções, máquinas de perseguição aos contrários, prestígio político, força material é o suficiente para ser um apostolo fracassado.

A luta deve ser áspera, deve ser dolorosa, deve ser o suplício de cada dia. O pregador deve ser injuriado e caluniado, deve ser falseado e negado, ser espezinhado e humilhado. Só então resplandece nele a luz misteriosa que os olhos materiais não veem, mas que os olhos da alma deslumbradamente sentem.

O Estado Novo fez de Portugal pequenino um Grande Portugal. Fez de um Portugal sem voz no concerto das Nações, uma voz que retumba com força e decisão. Mas Portugal não seria Portugal se não houvesse o apostolado de Sardinha e dos moços que o rodearam.

Antônio Sardinha pertenceu à raça daqueles para quem o Poder não exerce a mínima sedução. Pertenceu à raça dos grandes construtores. Dos alicerçadores. Dos criadores. Dos gênios, mil vezes negados. Mas a ele e deve a marcha de Portugal para o Estado Novo e a glória da gente lusitana nos dias atuais.

Sardinha morreu quase de repente, estupidamente, de uma septicemia que lhe entrou por una pequena inflamação no pé. Estava em viagem pelo interior de Portugal. Trouxeram-no urgentemente a Lisboa, mas já, era tarde.

Ele tinha cumprido a sua missão, como a cumprira, sob outro aspecto, Sidonio Paes.

O Destino reservou para Portugal uma coincidência curiosa. Na chefia do governo está Carmona, militar como Sidonio, penetrado pelo mesmo pensamento dele; na pasta de primeiro ministro, está Salazar, civil como Sardinha.

O telegrama de ontem, anunciando uma manifestação de 50.000 portugueses conscientes, trouxe-me à lembrança a figura de Sardinha, o doutrinador.

Ele foi como Corradini na Itália, como Jackson de Figueiredo no Brasil.

Ainda não se fez Justiça a Sardinha. É preciso glorifica-lo.

Eu recomendo aos integralistas do Brasil que leiam as obras desse escritor português. Seu pensamento político não é exatamente o nosso, mas muito se aproxima da nossa concepção de democracia e de autoridade nacional.

Lendo-o, compreender-se-á que ele é o autor de tudo. Do outro mundo, como o autor de uma peça de gênio, ele assiste no palco maravilhoso da sua terra, a representação da sua obra. Talvez os atores não executem com precisão o pensamento do autor. Mas, seja lá como for, a obra é daquele que a imaginou e a criou.

Publicado orginalmente n’A OFFENSIVA em 04 de Novembro de 1936.

sexta-feira, 29 de março de 2024

COMPREENSÃO (23/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

COMPREENSÃO (23/04/1936)

Plínio Salgado

Os camisas-verdes no atual momento brasileiro, entre as grandes dificuldades que se lhes antepõem e contra as quais oferecem, numa luta tenaz, energia da sua perseverança, glorificando-se, justamente, com o superá-las, terão de contar, com a maior de todas, a incompreensão de muitos brasileiros, cujos olhos foram vasados pelos interesses de campanário.

Quando um brasileiro, seja de que categoria social for, consegue, mediante o clássico estalo na cabeça que iluminou um dia o Padre Vieira, compreender o Integralismo, nós não temos dúvidas nenhumas: ele será, quando não um camisa-verde, pelo menos um simpatizante, ou, na pior das hipóteses, um patrício incapaz de guerrear, de qualquer modo, este movimento que exprime a própria dignidade da Nação.

Enquanto esse estalo na cabeça não sobrevém, para esclarecer uma consciência turvada pelas paixões dos partidos ou pelos caprichos da politicagem, o cego e surdo moral continua a ser um perseguidor de seus irmãos que outra coisa não querem senão salvaguardar tudo o que o Brasil tem de mais caro nas suas tradições e na sua honra.

É assim que, em Minas Gerais somos obrigados a recorrer aos juízes e tribunais, reclamando por direitos que nos assistem como partido político organizado, como o único partido nacional. É assim também que, em Santa Catarina, no Paraná, tivemos de solicitar remédios judiciários para o exercício dos mais legítimos direitos e a prática do mais puro patriotismo. E é assim que, nos dias transcorrentes, assistimos à tremenda opressão que sofrem os integralistas da Bahia, os sertanejos de todas as regiões do território baiano, pelo crime de amarem o Brasil e desejarem para ele uma posição de destaque no concerto internacional.

Tudo porque o verbo COMPREENDER não é conjugado pelas autoridades desses Estados. Pois estamos certos de que, no dia em que essas autoridades, que afinal de contas são brasileiras como nós e não podem desejar, em hipótese alguma, a desgraça do Brasil, compreenderem os serviços que o Integralismo já prestou à Ordem, o papel relevante que desempenhou como atmosfera de patriotismo, de nacionalismo, de espiritualismo, na recente revolução comunista de novembro, nesse dia, essas autoridades não criarão mais os mínimos óbices a um movimento ao qual o país já deve os mais relevantes serviços.

Basta olhar para o que se passa na Capital da República.

Aqui, o Integralismo é compreendido, é respeitado, podendo agir livremente no desenvolvimento de uma propaganda cívica notabilíssima pela sua eficiência.

Saibam os governadores dos Estados, os chefes de Polícia de todo o Brasil e os delegados de polícia de todos os municípios, que na Capital da República, os camisas-verdes contam com a visão superior das autoridades e, por isso, a sua propaganda pacífica, honesta, leal, por Deus, Pátria e Família, pela sustentação dos princípios morais em que se embasa a dignidade da Nação, é exercida com toda a liberdade.

Em nossa edição de ontem e na de hoje, estampamos os "clichés" relativos à concentração de integralistas no campo de um dos núcleos municipais da Guanabara.

Foi, na verdade, um espetáculo imponente, pela sua grandeza, pelo ritmo de disciplina revelado, pelo entusiasmo que brilhava nos olhares e convicção que se exprimia nas atitudes.

Homens de todas as idades e de todas as posições sociais - altos comerciantes, generais reformados, professores de escolas superiores, médicos, advogados, engenheiros, comerciários, estudantes, operários, mulheres e crianças, numa vibração inenarrável, reafirmaram sua fé inabalável nos destinos da Pátria e do movimento que abraçaram, nutrindo a íntima certeza de que ele será a salvação do país.

Esta deve ser a hora da boa vontade. Esta deve ser a hora em que todos os brasileiros dignos, honestos, devem esquecer seus interesses de partido, seus caprichos regionais, não mais olhando o integralismo como um inimigo, porém, como um baluarte, e o mais decisivo da defesa de suas próprias famílias e de tudo o que representa a honradez e a altivez do povo brasileiro.

Que todos aqueles que ocupam uma parcela de autoridade no Brasil, mirem-se no espelho que oferecemos em nossa primeira pagina.

Idolatrado por todos os homens de bem da Capital da República, respeitado pelas autoridades, que os camisas-verdes sabem também respeitar, o movimento do Sigma numa aureola de popularidade, numa atmosfera de amor que lhe dedicam as famílias e toda a população carioca, prossegue, livremente, na propaganda de seus nobres ideais e na arregimentação de suas forças eleitorais, culturais e, sobretudo, morais e espirituais, funcionando com toda a liberdade e encantando a todos os que nele veem as esperanças mais vivas e luminosas de uma Pátria.

Que esse exemplo sirva de padrão para todas as consciências de brasileiro de todo país.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Abril de 1936.